A história desta Onça eu já contei no Blog anterior, como estou repaginando todos os desenhos, tornarei a contar esta aventura, que se tornou misteriosa, pelo inusitado da situação vivida, e pelo reconhecimento de uma fera a um ser que não queria seu mal. Transcorria o ano de 1973, e um seringueiro nosso que habitava no alto Eiru, pediu nossa ajuda para desfazer um grande roçado que ele tinha de mandioca, e que estava passando da época de transformar em farinha. A farinha de mandioca é o básico de alimentação das pessoas de nossa região . Nos nossos seringais sempre tinhamos um grande roçado por prevenção pois sempre estavam chegando novos fregueses e estes, não traziam farinha para comer enquanto se instalavam, e nós é que fornecíamos. Este seringueiro era muito trabalhador e tinha sobra de produção sempre. desta vez era tanta, que ele apelou para a nossa amizade e assim é que meu irmão Edy e eu, fomos para o alto Eiru onde ele morava, levando conosco tres barcos e uma equipe de dez homenss trabalhadores. O alto Eiru, era uma espécie de paraiso perdido: animais de todas as espécies estavam ali nas margens, esperando serem caçados, muitos peixes, tudo muito farto. Eu nesta época ainda um jovem de vinte e sete anos, bom atirador, e sem muitas oportunidades de estar tão cercado de tantas caças, logo no dia seguinte de minha chegada, convidei o dono da casa para darmos uma volta de canoa pelo rio, e em companhia de um filho seu [para ajudar a remar] fomos subindo o rio ao amanhecer. Depois de uma hora de exaustivas remadas, depois de termos visto uma infinidade de macacos, aves e até um bando de porcos Caitetus, em uma curva do rio, sem que pudessemos ver ao longe, nos deparamos a tres metros de uma enorme Onça Pintada.A nossa reação foi imediata: todos pegamos as armas, afinal estavamos quase ao lado do maior predador das Américas, mas meu impulso de atirar não obedeceu a minha reação inicial e então ví que ela estava estática; nem nos olhou. Só fitava o rio, e mudava a cada dez minutos aproximadamente, a posiçao de suas patas , mas o rosto estava imutável. meu seringueiro ia atirar e eu energicamente mandei-o parar. Notei sua decepção e sobretudo surpresa, afinal, tratava-se de uma Onça Pintada, mas me atendeu e ficamos parados por mais uns trinta minutos olhando o belo animal. Então, ela sem nos olhar, virou-se e entrou em um grande tronco ôco de Cumarú que estava bem atrás dela e, em mais uns quinze minutos ouvimos o MIAR de gatinhos; Ela acabara de ganhar filhotes. Confesso que quase bati palmas, e meus companheiros pareciam tambem agora contagiados pelo acontecimento. Um pouco mais e ela saiu do ôco trazendo um filhote ainda meladinho preso pela cabeça dentro de sua boca e o colocou por trás do tronco onde havia sol. Retornou ao buraco e trouxe o segundo gatinho e tambem o colocou la e deitou com eles começando a lamber. Disse eu ao meu parceiro que iria olhar o trio, ele quase ficou louco dizendo que era a morte certa pois uma Onça de filhotes era pior que o Satanás disse ele, mas não sei explicar porque, senti que ela não me faria mal, e bem lentamente [mesmo com um pouco de medo] avancei até o tronco, olhei por cima e os ví: estavam mamando e ela então me deu de presente, este olhar cumplice que postarei acima. Logo rosnou e eu entendi que meu momento glorioso havía esgotado o tempo.
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