quarta-feira, 8 de agosto de 2012

As quinzenas

Este desenho, feito como todos os outros de memória, conta uma historia de anos de trabalho desenvolvidos no Rio Eiru. Era um barco assim mesmo, e assim também os obstáculos que tinhamos que transpor a cada minuto. O rio raso, estreito e muito sinuoso, cheio  de árvores que caem no periodo das enchentes a cada ano, quando as águas dos primeiros "ripiquetes" [Ripiquete é o resultado das  primeiras grandes chuvas que ocorrem no fim do mes de Outubro e o rio estando seco, as águas vem com muita força e vão destruindo o barranco, deixando a água turva de barro, e com espumas amarelecidas  flutuando.] as correntezas até que arrastam as árvores caídas, mas elas são grandes e vão se arrastando pelo leito do rio e logo encalham, e ficam dificultando o já difílcil caminho entre galhos.  Notem que em cima da tolda existe um volume e está saindo fumaça, era o nosso fogão, feito de uma lata de flandre de transportar gasolina, vinte litros. Colocavamos de lado a lata, em cima abriamos um buraco, na frente a metade da lata era cortada para permitir colocar lenha, e da metade  para  baixo,   colocavamos barro  para evitar que tombasse e não permitir que queimasse a tolda. Geralmente a nossa panela tombava, ou caia na água,  mesmo estando presa com arames, derramava a comida por causa das fortes pancadas nos troncos sub-mersos. Era muito apertado, e quando saiamos de Eirunepé trazendo muita  mercadoria para o alto seringal, nem tinha como dormir a bordo, paravamos em uma prainha e lá ao relento faziamos uma fogueira para espantar feras e o frio da  madrugada e passavampos a noite, deitados em cima de lona, conversando, cochilando e tentando dormir, o que faziamos por excesso de cansaço.Neste tempo não existia aqui na região os tão práticos Moto-Serra, era com um machado e uma pequena serra que muitas vezes eramos obrigados a cortar galhos e troncos embaixo da água. Muitas vezes tivemos que caminhar por horas costeando o rio até encontrar uma casa de seringueiros para pedir ajuda e retirar o barco preso em cima de um grosso  tronco.

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